Um dia desses, na casa da minha mãe, peguei esse disco histórico em mãos. Retirei da capa, olhei dos dois lados, praticamente sem um arranhão, e cuidadosamente fiz voltar ao seu lugar. Jóia rara!
De lá pra cá, Chico Buarque percorreu uma trajetória impecável de competência, talento e sucesso. Poeta, compositor, cantor, escritor, produtor, artista completo e intelectual. Atuante, ativista, presente, corajoso. Mas acima de tudo isso, paira a sua música e poesia.
Caravanas - o novo disco de Chico Buarque, lançado em 2017 |
É difícil selecionar suas melhores canções, ou seus maiores sucessos. Depende do que estamos querendo ouvir em determinado momento. Volta e meia nos pegamos cantarolando alguma de suas músicas. Afinal elas estiveram presentes nas rádios, na televisão, no teatro e no cinema, ao longo dos últimos cinquenta anos. Como se não bastasse, neste ano de 2017, ele lançou um disco novo!
Para representar a obra de Chico Buarque, esta playlist foi criada a partir de uma seleção cuidadosa, passando por cada um de seus principais álbuns ao longo desse tempo. Começando pela Banda, passando pelo Cotidiano com uma Feijoada Completa e fechando com a Tua Cantiga em meio a Caravanas. São cerca de 40 músicas de inquestionável sucesso e qualidade. Mesmo assim, se você preferir, joga pedra na Geni!
Pode curtir e seguir, que vale a pena. Bom proveito.
Para ouvir a lista de músicas no Spotify, clique aqui.
Na seleção musical acima apresentada, um dos destaques, com certeza, é a música Geni e o Zepelim, que integra o Musical Ópera do Malandro, de 1978. Por isso selecionei este vídeo para completar a publicação.
Geni e o Zepelim
(Chico Buarque de Hollanda)
De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geleia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "Mudei de ideia!"
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniquidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir
Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni!
Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela)
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai, Geni!
Vai com ele, vai, Geni!
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni!
Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!
Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!
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