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quarta-feira, 6 de março de 2019

Mangueira e a História do Brasil em 2019

O Carnaval, ao longo da história, sempre foi palco de protestos. Sambas, marchinhas, fantasias, alas das Escolas de Samba, enfim, por diferentes formas, os artistas e os foliões extravasam e registram o seu grito de protesto.

Alguns enredos ajudam a enfatizar esse grito. E esse ano, quem fez isso com muita competência foi a tradicional Escola carioca, a Estação Primeira da Mangueira. E foi essa competência de associar o enredo histórico a um desfile técnico impecável que a levou ao título de campeã do Carnaval de 2019, com nota máxima em todos os quesitos do julgamento.

O carnavalesco Leandro Vieira, na parte inicial da sinopse do enredo, explica sua intenção:


HISTÓRIA PRA NINAR GENTE GRANDE é um olhar possível para a história do Brasil. Uma narrativa baseada nas “páginas ausentes”. Se a história oficial é uma sucessão de versões dos fatos, o enredo que proponho é uma “outra versão”. Com um povo chegado a novelas, romances, mocinhos, bandidos, reis, descobridores e princesas, a história do Brasil foi transformada em uma espécie de partida de futebol na qual preferimos “torcer” para quem “ganhou”. Esquecemos, porém, que na torcida pelo vitorioso, os vencidos fomos nós.
Ao dizer que o Brasil foi descoberto e não dominado e saqueado; ao dar contorno heroico aos feitos que, na realidade, roubaram o protagonismo do povo brasileiro; ao selecionar heróis “dignos” de serem eternizados em forma de estátuas; ao propagar o mito do povo pacífico, ensinando que as conquistas são fruto da concessão de uma “princesa” e não do resultado de muitas lutas, conta-se uma história na qual as páginas escolhidas o ninam na infância para que, quando gente grande, você continue em sono profundo.

A íntegra da sinopse do enredo está disponível no portal da Escola, no seguinte endereço: http://www.mangueira.com.br/carnaval-2019/enredo

Foto: Rodrigo Gorosito / G1

Com um samba forte e empolgante, com fantasias, alas e carros alegóricos que transmitiram bem a ideia original, a Mangueira conquistou com facilidade o público das arquibancadas do sambódromo carioca e os telespectadores de todo o Brasil, conforme foi demonstrado em pesquisas de opinião coletadas pela imprensa. E na quarta-feira de cinzas, o júri técnico confirmou o que era esperado, dando o título para a Estação Primeira de Mangueira.

Aqui, saudamos a vencedora, parabenizamos todas as participantes e colocamos algumas opções musicais para você.

No vídeo abaixo, logo depois da letra, o clipe oficial do samba enredo da Mangueira.
Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra
Brasil, meu dengo
A Mangueira chegou
Com versos que o livro apagou
Desde 1500
Tem mais invasão do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não está no retrato
Brasil, o teu nome é Dandara
E a tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati
Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês
Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos Brasil que se faz um país de Lecis, jamelões
São verde e rosa as multidões
Autores: Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Mama, Marcio Bola, Ronie Oliveira e Danilo Firmino Intérprete: Marquinhos Art'Samba.

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