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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?

Encerrados os desfiles das Escolas de Samba, um deles se destacou pela coragem do carnavalesco. Ao se posicionar de forma clara sobre o momento político atual e conseguir fazer a ponte com o período da escravidão, a Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, do Rio de Janeiro, causou uma grande polêmica.

Vampiro Neoliberalista - personagem do carro alegórico da Tuiuti


O enredo criticou a reforma trabalhista, a precarização do trabalho, o governo Temer, as manifestações que culminaram no golpe parlamentar de 2016, enfim, uma crítica social em forma de samba, alegorias e adereços, com inteligência e independência.

Ala dos Manifestoches

Mas como o nosso blog é dedicado à música, vimos destacar aqui o samba enredo, composto pelo fabuloso Moacyr Luz, com Cláudio Russo, Jurandir, Zezé e Aníbal. Veja a beleza e a força desses versos e depois os acompanhe com a melodia em uma versão acústica. #Tuiuti #vemvindoumamelodia #carnaval2018

Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?

Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado
Senhor, eu não tenho a sua fé e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz

Eu fui mandiga, cambinda, haussá
Fui um Rei Egbá preso na corrente
Sofri nos braços de um capataz
Morri nos canaviais onde se plantava gente

Ê Calunga, ê! Ê Calunga!
Preto velho me contou, preto velho me contou
Onde mora a senhora liberdade
Não tem ferro nem feitor

Amparo do Rosário ao negro benedito
Um grito feito pele do tambor
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
Um rito, uma luta, um homem de cor

E assim quando a lei foi assinada
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu
Áurea feito o ouro da bandeira
Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel

Meu Deus! Meu Deus!
Seu eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social

Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação


Samba Enredo em versão acústica, interpretado por Grazzi Brasil

Referências:


domingo, 11 de fevereiro de 2018

Década de 60 gerou um musical brasileiro da melhor qualidade

Tive a oportunidade de assistir, neste mês de fevereiro, ao espetáculo "60 Década de Arromba, um Documento Musical", no Theatro NetRio. E como foi bom ver gente jovem e talentosa no palco, botando pra quebrar com muita dança, música e figurinos. São 24 atores, que também são dançarinos e cantores, com uma orquestra ao vivo e muita disposição.


Esta é a cena da música: "Por favor, pare agora!"

E a Wanderléa? Bom ela é a isca perfeita para atrair o público, curioso para rever ou conhecer a famosa Ternurinha. E é perfeita, porque não decepciona. Mostra carisma, vitalidade, talento, alegria e uma emoção visível e contagiante.


Wanderléa, em plena forma, esbanjando carisma e talento

O espetáculo, prepare-se, tem mais de 3 horas de duração, considerando um pequeno atraso no início e um intervalo.

Mas dá gosto de ver uma produção muito bem cuidada, uma equipe talentosa e várias inovações cênicas.

Pra quem gosta de música, é imperdível, uma vez que a trilha sonora da década de 60 é apresentada tanto com os sucessos nacionais quanto os internacionais. Artistas que ainda hoje são conhecidos e lembrados e outros nem tanto, daquela época, aparecem nas projeções de fotos com recortes de jornais e revistas, áudios e vídeos. Ao mesmo tempo, os atores-cantores-dançarinos nos brindam com interpretações coreografadas dos sucessos do rádio, cinema e TV.

O viés cômico do grupo, garante boas risadas ao longo do espetáculo. A produção cuidadosa e detalhista garante surpresas cênicas, do início ao fim. E aos saudosistas, a presença de Wanderléa garante a emoção de vê-la tão bem, cinquenta anos depois dessa festa de arromba que ela participou tanto e ajudou a marcar a história da música dos anos 60.


O Carnaval representado no espetáculo

A resenha oficial do espetáculo, sucesso no Rio e São Paulo, diz assim:


Fruto de uma extensa pesquisa feita por Frederico Reder e Marcos Nauer, 60! Década de Arromba – Doc. Musical começa com um prólogo, em 1922, contando a chegada do Rádio no Brasil, para em seguida mostrar o início da Televisão e aí sim, sua popularização na década de 1960.  A partir desse ponto, a peça narra os principais acontecimentos, apresentando mais de cem canções dos mais diversos gêneros. De Roberto e Erasmo, passando por Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto, Elvis Presley, Beatles, Tony e Celly Campello, Bibi Ferreira, Edith Piaf, Tom e Vinicius, Milton Nascimento, Gil e Caetano, Maysa, Geraldo Vandré e tantos outros nomes importantes na música.


O nosso blog é assim, se a música foi tratada com carinho e respeito, tem espaço garantido por aqui. Afinal, Vem vindo uma Melodia!

#vemvindoumamelodia #60docmusical

Assista aqui a uma das cenas do espetáculo, mesclando a referência ao lançamento da boneca Barbie com o sucesso da música Estúpido Cupido.



Referências:


https://www.facebook.com/60docmusical/

https://pt.wikipedia.org/wiki/60!_Década_de_Arromba_-_Doc._Musical

http://www.theatronetrio.com.br/pt-br/programacao/487/60!_DÉCADA_DE_ARROMBA_-_DOC._MUSICAL_-_ÚLTIMAS_SEMANAS.html




segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Caó e a luta contra o racismo

Nesse domingo, morreu Carlos Alberto Caó de Oliveira, uma grande liderança do movimento negro no Brasil, especialmente em seus dois mandatos parlamentares, na década de 80, em que se destacou pela aprovação da Lei Caó, contra o racismo e outros tipos de preconceito. Foi ele quem garantiu a inclusão do combate ao racismo na Constituição de 88 e a lei de tipificação dos crimes de racismo, no ano seguinte.



Lázaro Ramos entrevista Carlos Alberto Caó, em 2012

Caó foi uma liderança popular, que exerceu o cargo de Secretário de Estado de Trabalho e Habitação, durante o Governo de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro.


Carlos Alberto Caó de Oliveira

Ao lembrar que foi em 1988 que a Unidos de Vila Isabel ganhou seu primeiro título no Carnaval Carioca, com o samba "Kizomba, a Festa da Raça", achei oportuno homenagear o Caó e a sua luta, com esse samba campeão, aqui interpretado por Martinho da Vila.

Afinal, a música sempre foi um instrumento importante para reforçar as lutas dos movimentos sociais e o samba uma das mais expressivas manifestações culturais dos negros brasileiros.



Desfile da Unidos de Vila Isabel em 1988


Valeu Caó!

Kizomba, a Festa da Raça
(Rodolpho, Jonas e Luiz Carlos da Vila)



Valeu, Zumbi
O grito forte dos Palmares
Que correu terra, céus e mares
Influenciando a abolição

Zumbi, valeu
Hoje a Vila é Kizomba
É batuque, canto e dança
Jongo e Maracatu
Vem, menininha
Pra dançar o Caxambu

Ô,ô, Ô,ô
Nega mina
Anastácia não se deixou escravizar
Ô,ô
Ô,ô,ô,ô
Clementina, o pagode é o partido popular
Sacerdote ergue a taça
Convocando toda a massa
Neste evento que congraça
Gente de todas as raças
Numa mesma emoção

Esta Kizomba é nossa constituição
Esta Kizomba é nossa constituição

Que magia
Reza, ajeum e Orixá
Tem a força da cultura
Tem a arte e a bravura
E o bom jogo de cintura
Faz valer seus ideais
E a beleza pura dos seus rituais

Vem a Lua de Luanda
Para iluminar a rua
Nossa sede e nossa sede
De que o apartheid se destrua

Valeu, Zumbi
O grito forte dos Palmares
Que correu terra, céus e mares
Influenciando a abolição
Zumbi, valeu
Hoje a Vila é Kizomba
É batuque, canto e dança
Jongo e Maracatu
Vem, menininha
Pra dançar o Caxambu
Ô,ô, Ô,ô
Nega mina
Anastácia não se deixou escravizar
Ô,ô
Ô,ô,ô,ô
Clementina, o pagode é o partido popular
Sacerdote ergue a taça
Convocando toda a massa
Neste evento que congraça
Gente de todas as raças
Numa mesma emoção

Esta Kizomba é nossa constituição
Esta Kizomba é nossa constituição

Que magia
Reza, ajeum e Orixá
Tem a força da cultura
Tem a arte e a bravura
E o bom jogo de cintura
Faz valer seus ideais
E a beleza pura dos seus rituais

Vem a Lua de Luanda
Para iluminar a rua
Nossa sede é nossa sede
De que o apartheid se destrua
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