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sexta-feira, 3 de novembro de 2017

João Bosco, nas águas da Guanabara

Há muito tempo nas águas da Guanabara, o Dragão do Mar reapareceu... Quem reconhece essa estrofe, lembra da música de João Bosco e Aldir Blanc, cuja interpretação mais famosa foi feita por Elis Regina.

Um dia desses, almoçando com amigos, alguém me perguntou:
- No seu blog não tem nada do João Bosco!?
Eu fiquei mudo por alguns instantes e depois respondi, quase envergonhado:
- Ainda não...
Depois fiquei pensando na razão dessa absurda lacuna, em quase um ano deste blog. Talvez tenha sido o fato de João Bosco não se encaixar em nenhum dos temas das playlists que preparei no primeiro semestre. Sua música é única, diferente, forte e sem enquadramento formal. Taí a minha justificativa inicial. No segundo semestre, priorizei os álbuns, e mesmo assim ele ficou de fora. Bom, sem desculpas, a decisão correta é esta, ouvir João Bosco agora!

E na hora de escolher o álbum, não tive dúvidas. Olhei as imagens das capas e reconheci aquela do meu velho LP: Caça à raposa, 1975. Um disco que ouvi inúmeras vezes, lado A e lado B.

LP Caça à Raposa - 1975 (imagem: Sinister Vinyl Collection)

Lado A: 01. O Mestre-Sala dos Mares / 02. De Frente pro Crime / 03. Dois pra Lá, Dois pra Cá / 04. Jardins de Infância / 05. Jandira da Gandaia / 06. Escadas da Penha

Lado B: 01. Casa de Marimbondo / 02. Nessa Data / 03. Bodas de Prata / 04. Caça à Raposa / 05. Kid Cavaquinho / 06. Violeta de Belfort Roxo

Com todas as músicas compostas por João Bosco e seu parceiro Aldir Blanc, um time de músicos de primeira e arranjos de Cesar Camargo Mariano, o disco é uma maravilha da música brasileira.


Para ouvir este álbum no Spotify, clique aqui.



Para ouvir este álbum no Deezer, clique aqui.


Passando por vários ritmos e temas, suas letras falam de história, cotidiano, romance e por aí vai. Quem se lembra, por exemplo, dessa deliciosa estrofe, que eu transcrevo a seguir? A música se chama "Dois pra lá, dois pra cá".


Sentindo frio em minh'alma 
Te convidei pra dançar
A tua voz me acalmava 
São dois pra lá, dois pra cá

Realmente, faz muito tempo que nas águas da Guanabara essas músicas eram muito ouvidas. Aliás, lançado na década de 70, uma de suas músicas teve que ser modificada para que pudesse ser gravada. Uma exigência da censura, durante a ditadura militar. Exatamente essa que fala de João Cândido, o "Almirante Negro", contando em verso e melodia um pouquinho da "Revolta da Chibata", episódio da história do Brasil. Transcrevo na íntegra, a música que era pra ser chamada de Almirante Negro e se chamou Mestre-Sala dos Mares. Em negrito estão as palavras ou frases que tiveram que ser modificadas por exigência da censura.

O Mestre-Sala dos Mares
(Letra original sem censura)*
Por João Bosco e Aldir Blanc

Há muito tempo nas águas da Guanabara
O dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo marinheiro
A quem a história não esqueceu

Conhecido como o almirante negro
Tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao navegar pelo mar com seu bloco de fragatas
Foi saudado no porto pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por batalhões de mulatas

Rubras cascatas jorravam das costas
Dos negros pelas pontas das chibatas
Inundando o coração de toda tripulação
Que a exemplo do marinheiro gritava então

Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias
Que através da nossa história
Não esquecemos jamais

Salve o almirante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais

Mas faz muito tempo.

E pra fechar, um vídeo com essa música, cantada pelo próprio João Bosco, acústico, voz e violão. Lembrando que o João Bosco continua na ativa, fazendo shows e lançando discos!




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